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Se fosse hoje

Não sei se mais gente pensa assim, mas direto imagino como me comportaria em algumas situações se soubesse o que sei hoje. Desde as mais esdrúxulas provocações de colégio a postura com clientes, professores ou família. Fico boba com o que deixei passar pela falta de perspicácia e pelo que deixei me afetar muito mais do que merecia pela falta de perspectiva.

Não sou uma fonte de sabedoria e vivência, ok, mas convenhamos que nesses últimos anos, o fim dos meus 20 e poucos, deu pra viver um bocadinho e repensar algumas coisas. O que tenho mais lembrado nos últimos dias é do meu discurso na formatura da Puc. Na época a missão de oradora da turma tinha outro significado. Hoje faria as coisas um pouco diferente. Se pudesse voltar no tempo e reescrever meu discurso, seria mais ou menos assim.

Aos meus queridos colegas

Passamos quatro anos juntos, conhecendo o melhor e o pior de cada um (ninguém consegue ser seu melhor todos os dias às 7 da manhã, ou logo antes de enfrentar um 4111 lotado debaixo do sol de meio dia e meia). No início éramos só deslumbre. Fomos nos encontrando no grupo, fizemos amigos. Amigos de verdade mesmo, que sei que vamos levar para a vida! Chegamos com cabeças e corações abertos a toda experiência. Nos expusemos e absorvemos tudo: das mais elaboradas teorias sociais às mais caras de pau picaretagens que encontramos.

Fomos bravos! Nos mantivemos acordados nas aulas de teoria. Enfrentamos um exército de pintores barrocos e lutamos (muitos até a morte) contra o Tuareg. Vencemos! Estamos aqui hoje para fechar um capítulo e abrir outro: o resto das nossas vidas.

Mas há um tempo não nos enganamos mais. Sabemos que não necessariamente seremos colegas de profissão. Aquele deslumbre todo do início foi se apagando a cada experiência de estágio, a cada perspectiva de salário e a cada “não” que ouvimos, como se fosse nada, de trabalhos aos quais dedicamos nossas almas e madrugadas. O idealismo continua lá! Vamos mudar essa zona, profissionalizar os clientes e trabalhar em uma agência que não escuta a palavra não. Seremos melhores que isso. É, mas dessa vez o idealismo vem com um plano B. Concurso, restaurante, grife de camiseta, negócio da família. Se não nos abatemos pelo desespero, sabemos que a última coisa que conseguimos aqui foi um caminho: na verdade, foi uma encrusilhada.

Vamos nos encontrar pelo mundo, alguns como publicitários, outros não. Mas nada disso foi tempo perdido. Se a vida é uma combinação de probabilidades, todos nós precisamos passar por aqui para chegarmos onde estaremos em alguns anos. E todo o conhecimento que adquirimos aqui nos será útil por toda a vida, seja para ter segurança na hora de fazer um trabalho ou para colocar um cliente no lugar mostrando que sim, você entende mais de comunicação do que ele.

Mas uma coisa é certa. Todos nós saímos daqui hoje muito mais capazes, maduros e esclarecidos. Todos nós temos o necessário para o sucesso. Agora quem determina nosso futuro somos nós, através do nosso próprio esforço. Somos donos do nosso destino, e graças à nossa passagem pela universidade, ele pode se desdobrar de várias formas. Agora temos mais escolhas.

E não se enganem. Apesar de sermos criados para acreditar nisso, trabalho não é a coisa mais importante do mundo. Qualidade de vida sim, e acho que é por isso que confundimos: qualidade de vida se conquista com o trabalho, mas se perde com ele também.

Somos uma geração muito cobrada por nós mesmos, e sentimos que temos que mostrar muita competência e sermos prodígios para retribuir todo o esforço que nossos pais tiveram para nos proporcionar essa oportunidade. Mas nossos pais só querem que sejamos felizes! E o que eles acham que nos fará felizes nem sempre é verdade.

Não, você não PRECISA sair da faculdade direto para um mestrado ou pós graduação. Você não PRECISA casar para ser mãe ou pai antes dos 34. Você não PRECISA consumir 16 horas do seu dia em um trabalho que não gosta para garantir uma carreira que não quer. Você precisa sim planejar a sua vida para realizar seus sonhos. Dá tempo, é só uma questão de prioridades e de não se perder no meio de exigências sociais que não dizem respeito às nossas vontades.

Uma das expressões que mais ouvimos durante a faculdade foi o “pulo do gato”. A tentativa de sair do convencional e fazer algo verdadeiramente original que vai se destacar. Então, meus colegas, acho que o que devemos pensar agora é no nosso próprio pulo do gato. Abandonar as convenções (só as que não nos servem), buscar uma forma realmente nossa de viver e sermos felizes, como publicitários ou não.

Quando te perguntarem, naquelas reuniões de colégio, “e aí, fulano, o que você faz?”, teremos muito mais o que responder do que “sou publicitário”. Seremos felizes, da nossa forma, e com isso teremos realizado tudo que queremos.

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